Efeitos das estatinas na DCV compensam o risco de diabetes na artrite reumatoide

Richard Mark Kirkner

Notificação

25 de novembro de 2021

O uso de estatinas por pacientes com artrite reumatoide parece proporcionar um benefício global em relação aos desfechos cardiovasculares, superando o risco de diabetes tipo 2 observado com o uso desses medicamentos na população geral, segundo evidências de um estudo de coorte com mais de 16.000 pessoas no Reino Unido, apresentado na reunião anual virtual do American College of Rheumatology.

Dra. Gulsen Ozen

"Nosso estudo ressalta que os pacientes com artrite reumatoide devem ser avaliados em termos da indicação de iniciar estatina no intuito de melhorar o risco de doença cardiovascular", disse em entrevista a primeira autora do estudo, Dra. Gulsen Ozen, que está no terceiro ano de residência médica da University of Nebraska, nos Estados Unidos. Como o risco de diabetes tipo 2 associado ao uso de estatina não é mais importante nos pacientes com artrite reumatoide do que na população geral, o início da estatina "é, na verdade, uma grande oportunidade de abordar os fatores de risco do diabetes tipo 2, como prática de atividades físicas e exercícios, obesidade e perda ponderal, e uso de glicocorticoides, que têm outros efeitos importantes na saúde", disse a pesquisadora.

"Também, é importante destacar que, mesmo que os pacientes venham a ter diabetes tipo 2, as estatinas ainda protegem contra os desfechos da doença cardiovascular e de mortalidade, tal como nos pacientes sem diabetes", acrescentou a Dra. Gulsen. "Tendo tudo isso em conta, os benefícios das estatinas superam os riscos."

Dra. Elena Myasoedova

A Dra. Gulsen disse que este foi o primeiro grande estudo de coorte a avaliar a morte por doença cardiovascular e os riscos de diabetes tipo 2 associado ao uso de estatinas por pacientes com artrite reumatoide, afirmação corroborada pela Dra. Elena Myasodova, Ph.D., reumatologista da Mayo Clinic, nos EUA.

A Dra. Elena, que é professora de reumatologia e epidemiologia na Mayo Clinic, disse em entrevista que o estudo foi “metodologicamente rigoroso", utilizando o pareamento da pontuação de propensão condicionada ao tempo e um desenho prevalente de novos usuários, "tratando assim do viés de tempo imortal" encontrado no desenho de estudos nos quais os pacientes entram em uma coorte, mas não iniciam o tratamento antes de apresentar o desfecho de interesse e são designados ao grupo não tratado ou quando o lapso entre a entrada dos pacientes na coorte e o início do tratamento é excluído da análise. Um estudo anterior feito pelos mesmos autores não utilizou a correspondência da pontuação de propensão condicionada ao tempo, disse a Dra. Elena.

"Os achados do estudo sugerem que pacientes com artrite reumatoide podem se beneficiar do uso de estatinas em termos de desfechos e morte de origem cardiovascular, mas os médicos devem permanecer atentos em relação ao aumento do risco de diabetes tipo 2 e conversar sobre essa possibilidade com os pacientes", disse a Dra. Elena. “A identificação dos pacientes com maior risco de apresentar diabetes tipo 2 após iniciar estatina seria importante para personalizar a abordagem do tratamento com este medicamento”.

Detalhes do estudo

O estudo teve acesso a registros do U.K. Clinical Practice Research Datalink e dos bancos de dados relacionados Hospital Episode Statistics e Office of National Statistics. Foram analisados adultos com artrite reumatoide diagnosticados de 1989 a 2018 em duas coortes: uma para doença cardiovascular e morte por todas as causas, formada por 1.768 pacientes que começaram a tomar estatina + 3.528 controles pareados sem usar estatina com pontuação de propensão condicionada ao tempo; e a outra para diabetes tipo 2, formada de 3.608 pacientes que começaram a tomar estatina + 7.208 controles pareados sem usar estatina com pontuação de propensão condicionada ao tempo.

Em toda a coorte, o uso de estatinas foi associado a uma redução de 32% de eventos cardiovasculares (desfecho composto de infarto agudo do miocárdio letal ou não, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca com hospitalização ou morte por doença cardiovascular), redução de 54% das mortes por todas as causas e aumento de 33% do risco de diabetes tipo 2, disse a Dra. Gulsen. Os resultados foram semelhantes para ambos os sexos, embora a redução de eventos cardiovasculares com as estatinas entre os homens não tenha alcançado significância estatística, provavelmente pelo menor tamanho da amostra, disse a autora.

Os pacientes com e sem história de doença cardiovascular tiveram redução semelhante de eventos cardiovasculares e morte por todas as causas, e o risco de diabetes tipo 2 aumentou com as estatinas, mas só teve significância estatística para os pacientes sem história de doença cardiovascular, disse a Dra. Gulsen.

Os pacientes com artrite reumatoide em risco de diabetes tipo 2 e em uso de estatinas precisam monitorar a glicemia, o que é tipicamente feito nos pacientes com artrite reumatoide usando antirreumáticos modificadores da doença, e dosar a hemoglobina glicada (HbA1c) quando os níveis de glicose estiverem comprometidos, disse a pesquisadora. "Qualquer preocupação com o diabetes tipo 2 seria também comunicada pelos médicos generalistas dos pacientes para iniciar uma avaliação e tratamento adicionais", disse a autora.

Mas a Dra. Gulsen indicou a existência de uma confusão entre os médicos do atendimento primário e os reumatologistas sobre quem é responsável por prescrever estatinas para esses pacientes. "Gostaria de lembrar que, em vez de atribuir esse papel a uma determinada especialidade, uma boa comunicação pode melhorar essa lacuna de atendimento com a subutilização de estatinas na artrite reumatoide", disse a especialista.

"Além disso, para os reumatologistas, dada a redução das mortes por todas as causas com estatinas ter sido tão alta quanto a redução dos eventos cardiovasculares, as estatinas podem estar reduzindo outras causas de morte por meio do controle da atividade da doença".

A empresa Bristol-Myers Squibb financiou o estudo. As Dras. Gulsen Ozen e Elena Myasoedova informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com – Medscape Professional Network.

Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....